Estávamos entrando no Morumbi – setor: pista – confesso que eu estava meio perdido, era minha segunda vez nesse estádio. Percebi que passávamos atrás do palco, uma estrutura gigante, quase mais alta que o próprio Morumbi. Pisando no gramado, a visão do muro foi surpreendente, tudo muito grande: o palco, o muro, a euforia…
A reação que tive foi semelhante à do U2 ano passado… Aliás, não foi a única semelhança, Roger Waters e U2 elevaram os shows em estádio para outro nível, outro patamar, outro conceito. E foi esse meu pensamento em In The Flesh, a primeira canção executada por Roger e seus comparsas: isso é um show de rock? Não, é muito mais que isso, é um espetáculo completo, um filme ao vivo… o power point mais caro que já vi!
“Um filme ao vivo” foi a melhor definição que consegui imaginar. Era The Wall, em sua versão mais moderna, projetado num muro de 150 metros com a trilha sonora sendo executada ao vivo com uma perfeição absoluta… quase que por música!
Um aspecto que deve ser comentado é o tecnológico. O muro, em toda sua extensão, recebia projeções gigantescas de altíssima definição. E o mais incrível era que cada tijolo recebia uma imagem independente, possibilitando efeitos simples e surpreendentes… e às vezes de uma complexidade absurda!… Como o próprio Roger Waters disse, isso nunca havia sido feito antes.
Muito se reclamou sobre a previsibilidade do repertório. Para mim, não saber o que vai acontecer é parte excêncial do show. Abomino quem divulga o setlist antes, quem procura vídeos no youtube só pra saber o que vai acontecer e por aí em diante. Por este motivo, fiz questão de não me informar sobre nada deste espetáculo e, por isso, não fiquei nem sabendo que o show consistia na execução do disco duplo “The Wall” na íntegra, com direito a intervalo entre a última canção do disco 1 e a primeira do disco 2… Tá bom, do intervalo eu sabia e deu pra perceber que ele estava tocando as músicas na mesma ordem do álbum, mas isso foi uma surpresa, notada durante o show.
Não gosto muito de descrever os acontecimentos do espetáculo tim tim por tim tim porque, por mais que eu seja fiel aos detálhes, o relato nunca chegará aos pés da experiência ao vivo, sem contar que, oferecendo o meu ponto de vista, cria-se um filtro, uma interferência, um pré-conceito, uma ilusão de ótica no leitor que não presenciou o show. Mas, mesmo assim, farei breves comentários sobre algumas partes que me marcaram:
- In the Flesh: a primeira canção, o inicio arrebatador, com direito a fogos de artifício e o mítico avião se chocando contra o muro.
- O muro sendo construído durante o show.
- Mother: Roger fazendo um dueto com ele mesmo e os dizeres “the big mother is watching you”… foi fodástico!
- The Happiest Days of our Lives e o helicoptero quase real que forçava nossas cabeças para o céu.
- Goodbye Blue Sky e os aviões despeijando logotipos capitalistas e idealistas.
- Empty Spaces e aquelas imagens alucinantes das orquídeas.
- Goodbye Cruel World encerrando a primeira parte do show com o Roger dizendo “goodbye” e sendo tampado pelo último tijolodo muro, completando assim a sua construção.
- As imagens das vítimas de guerra que figuraram no muro durante o intervalo.
- Bring the Boys Back Home, pela música em si, mesmo.
- Confortably Numb: sem comentários.
- O Porco, com os dizeres “O novo código florestal vai matar o Brasil”… Aliás, o porco, o avião e o “muro sendo construído durante o show” são histórias que eu ouço desde sempre, assisti em VHS, DVD, Dvix e nunca imaginei que veria ao vivo. São coisas que fazem parte do meu folclore.
- Por fim, o muro sendo destruído no final, outro mito folclórico que nunca imaginei que veria.
Teve muitos outros grandes momentos que não comentei, preferi deixá-los para quem quiser ver com seus próprios olhos. E digo: todos, pelo menos uma vez na vida, devem assistir um espetáculo grandioso como este (e/ou do U2).
…Aliás, este foi mais um grande momento que merece ser destacado:
Torremo, Vilmar, Ernesto, Ruivo Hering, Ereé, Cabeção.